As tramas de um trauma em Bebê Rena.

Bebê Rena, é uma série da Netflix com altos índices de audiência. Em uma paleta outonal, estilo Almodóvar, que já supõe uma certa intensidade, surge o personagem principal:  Donny Dunn, um comediante e atendente de bar que busca ascensão longe da casa dos pais e de seu país de origem. Os episódios avançam e avança também o mal-estar diante da paralisação de Donny às sucessivas situações abusivas que surgem em sua história a partir da entrada de uma mulher misteriosa, Martha.

É bem demarcada a presença dela e de Teri, duas mulheres que, em suas complexidades, nos auxiliam a compreender melhor o protagonista. Ambas mereceriam pela grandeza das personagens, séries dedicadas também a elas. Todos em alguma medida irão se haver com os aspectos mais profundos de sua sexualidade e serão convidados a sair de algum tipo de armário. Na série, testemunhamos a abertura e saída de Donny, neste caso numa trama bastante traumática. ‘Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos’. Já nos disse Freud.

Na relação familiar, percebemos que ele não carrega sozinho os seus dilemas, há um segredo revelado pelo pai, os ditos tabus;- “não ditos” nas teias familiares que se desprendem nas repetições para que possam ser desvelados. Donny nos mostra também o típico silenciamento do universo masculino ancorado pela vergonha em nomear seus conflitos até o limite. Narrar e performar a dor que transborda, se apresenta como uma via possível de construção de significado e transformação nesta série. Bebê Rena é baseada na história real de Richard Gadd, que também interpreta o protagonista. Mesmo que densa, necessária, haja vista o alto índice de audiência.

21/05/2024